OSCAR 2017: Comentários sobre Filmes Indicados

O OSCAR 2017 está quase aí. Se você ainda não conseguiu assistir a todos os filmes que queria, não se preocupe. Acompanhe esta postagem para ver comentários a respeito dos filmes indicados para as principais categorias da premiação do Oscar.

“Finalmente, o cinema norte-americano se rendeu à realidade: uma mídia de massa tão poderosa como é o cinema precisa, sim – e muito – comunicar assuntos de interesse social em nível mundial. Direitos Humanos, Feminismo, Violência Doméstica, Drogas, Racismo… esses assuntos precisam ganhar força nas telas do cinema.”

É inegável que os filmes concorrentes ao Oscar deste ano são, em sua grande maioria, ligados à roteiros que falam sobre problemas sociais, minorias e preconceito. E não estamos falando somente dos documentários, não. Estamos falando dos principais filmes do cinema internacional. Aqueles que estão concorrendo ao Oscar de Melhor Filme, Oscar de Melhor Ator, Oscar Melhor Atriz, Oscar de Melhor Direção, Oscar de Melhor Roteiro…

Finalmente, o cinema norte-americano se rendeu à realidade: uma mídia de massa tão poderosa como é o cinema precisa, sim – e muito – comunicar assuntos de interesse social em nível mundial. Direitos Humanos, Feminismo, Violência Doméstica, Drogas, Racismo… esses assuntos precisam ganhar força nas telas do cinema. Precisamos falar sobre eles! As discussões precisam ser fomentadas no cotidiano das pessoas em todo o planeta.

E agora, de uma vez por todas, temos certeza de que a cerimônia do Oscar se tornará palco para debates e discursos inflamados. Especialmente quando pensamos em Estados Unidos da América e seu polêmico –  e absurdo – presidente, Donald Trump. Alguém tem dúvida de que o levante do cinema pelos Direitos Humanos deu-se em função do perigo que é ter eleito Trump? Ainda que por um motivo péssimo, é preciso comemorar: Yes! Já estava na hora do cinema acordar para o mundo!

OSCAR 2017: Comentários sobre Filmes Indicados

OSCAR 2017: Comentários sobre Filmes Indicados

E é nessa vibe que os filmes abaixo vem inseridos. Quer ver só? Então confere:

A Chegada

Quando lemos a sinopse desse filme, a primeira coisa que vem à mente é: “Sério? Mais um filme sobre contato alienígena? Não cansaram ainda?” – Mas então você começa a assistir e percebe que, na realidade, é tudo uma grande metáfora para falar de guerra, exército, governantes, militares e (des)humanidade. Uma grande e maravilhosa crítica aos “senhores da guerra”. Vale muito a pena assistir. Nada clichê e muito crítico, ‘A Chegada’ merece a indicação a Oscar de Melhor Filme.

Até o Último Homem

A história é real, antiga, e já bastante conhecida: o soldado norte-americano que, ao invés de aprender a usar rifles e matar os “inimigos” (no caso, os japoneses), dedicou-se a salvar os feridos do seu batalhão e até mesmo os do batalhão adversário. O filme é muito bonito, emocionante. Com um forte apelo ao cristianismo e catolicismo – afinal, é dirigido por Mel Gibson – mas não apresenta nada de realmente novo para o cinema mundial. É uma bela homenagem ao soldado, e uma grandiosa crítica aos métodos “estúpidos” do exército e da guerra. Mas enquanto obra cinematográfica, não vejo o que ‘Até o Último Homem’ teria a acrescentar. Na verdade o filme é até um pouco clichê. A não ser, é claro, pela bela belíssima atuação de Andrew Garfield, que encarna o soldado Desmond Doss, protagonista da história.

Estrelas Além do Tempo

A estréia de Pharrell Williams como produtor de cinema não poderia ter sido mais triunfal! O filme que traz à tona, finalmente, a participação decisiva, imprescindível e importantíssima de mulheres negras na ida do homem ao espaço, na época da Guerra Fria. A história dos livros e dos documentários sempre citou os grandes homens brancos e ricos envolvidos na Corrida Espacial. Mas sempre ignorou, por pura conveniência machista, que o homem só chegou ao espaço porque uma equipe de mulheres negras fez todos o cálculos matemáticos e físicos para que o lançamento de foguetes se tornasse realidade. E agora, em 2017, nós podemos saber como a história realmente aconteceu. Palmas! Gritos! Lágrimas! Finalmente os méritos são dados às suas devidas merecedoras. Realmente lindo, emocionante e merecedor da indicação ao Oscar de Melhor Filme.

Lion: Uma Jornada Para Casa

Este filme é de uma beleza tão grande, tão incrível, que é impossível escrever sobre ele sem encher os olhos d’água. Dev Patel se revela um dos mais incríveis atores da nova geração. Já sabíamos que ele era talentoso. Mas agora… UAU! O filme relata a história real de Saroo (ou Sheru), um menino índio que se perdeu do irmão mais velho quando criança, em uma estação de trem. Viveu nas ruas e acabou sendo recolhido para um orfanato. Foi adotado por uma família australiana e, aos 25 anos de idade, resolveu procurar sua família biológica na Índia. Finalmente, ele os reencontrou após anos de busca incansável. O filme traz, ao final, cenas filmadas com câmera amadora do real Saroo e sua família na Índia. Emocionante e lindo. Esse filme realmente mexe com o espectador. Sem a menor sombra de dúvida, mereceu muito a indicação à Oscar de Melhor Filme.

Moonlight: Sob a Luz do Luar

Este filme é um dos que trata das temáticas de Direitos Humanos e Minorias, visto que traz a história de vida de um garoto negro, pobre e homossexual. Desde a época da escola, onde sofria bullying, até a idade adulta, quando conseguiu superar todas as adversidades da infância e adolescência. Além de inserir o espectador em uma realidade pouco conhecida para a grande maioria, o filme também serve como uma lição de quebra de egocentrismo. Chiron (ou Black), o personagem principal, é uma criança abusada pela família, que sofre abandono parental, descobre-se homossexual, sofre bullying, passa pelas descobertas da adolescência totalmente desamparado, se envolve com drogas e criminalidade, é preso, cumpre sua pena, e ainda assim consegue superar todos os problemas e reencontrar o amor na fase adulta. Moonlight faz uma análise minuciosa da vida de jovens marginalizados e mostra que, nem sempre, é possível escapar do mundo da violência e da revolta. Que as pessoas nem sempre tem a chance de escolher seguir por um caminho de honestidade ou de criminalidade. E que, de forma alguma, as oportunidades são iguais para todos. A meritocracia é uma falsa simetria gigantesca! Algo virtual. Utópico. Que realmente não existe. E é por toda esta abordagem rica e completa que o filme merece, com aplausos, a indicação a Oscar de Melhor Filme.

Um Limite Entre Nós

O filme é baseado em uma peça de teatro que leva o mesmo nome. A história trata de um jogador de baseball frustrado, Troy Maxon, que não conseguiu seguir carreira no esporte e acabou virando lixeiro. Por causa dessa frustração, Troy acaba se tornando uma pessoa amarga e egoísta, que desconta sua dor em sua esposa e em seus filhos. De forma menos brutal como em ‘Moonlight’, ‘Um Limite Entre Nós’ (Fences) também aborda a realidade difícil de homens e mulheres pobres e negros. Afinal, o filme já começa com Troy batalhando junto à direção da empresa de lixo que negros também possam dirigir os caminhões, ao invés de somente coletarem o lixo nas ruas. Pois o privilégio de motorista era reservado somente aos brancos. Apesar de muitas ressalvas quanto ao comportamento abusivo de Troy com as mulheres e com sua família, o filme mostra como a opressão social pode destruir as pessoas que tinham potencial para o sucesso. Mais uma vez, trazendo à tona a temática dos Direitos Humanos e da Falsa Ilusão de Equidade Social. O filme certamente merece a indicação ao Oscar de Melhor Filme.

A Qualquer Custo

E aqui temos o primeiro filme “sonolento” indicado ao Oscar. ‘A Qualquer Custo’ trata do impacto que a crise financeira gerou nas famílias norte-americanas nos últimos anos. Como já é de conhecimento público, a grande crise dos Estados Unidos deu-se em função de fraudes causadas pelos bancos na administração de hipotecas de imóveis. E o filme traz como temática o esquema de assaltos à banco arquitetado por dois irmãos no Texas, para reaver a propriedade da família e deixar patrimônio para seus filhos. Infelizmente, o filme faz uma abordagem rasa e pouco interessante do acontecido no início da década. Cria um cenário de faroeste moderno, mas fica falso e fraco. O roteiro trata de uma fantasiosa vingança pessoal de cidadãos lesados contra os bancos fraudadores. Pouco atraente, bastante clichê e sem muito a dizer, o filme talvez tenha entrado para a listagem dos indicados a Oscar de Melhor Filme mais pelo assunto do que pelo mérito da obra.

La La Land: Cantando Estações

No Globo de Ouro deste ano, La La Land foi o filme mais premiado. E a possibilidade de que no Oscar aconteça o mesmo é quase certeira. Este filme é absolutamente diferenciado. É uma obra-prima. Uma joia esculpida. Nada nos últimos tempos se compara à perfeição de La La Land. O filme é um musical que trata da historia de Sebastian e Mia, um casal de artistas que se conhece, se apaixona, mas por circunstâncias diversas da vida, não permanece junto. O filme é suave, aborda diversos assuntos das relações humanas (frustrações, realizações, inveja, amor, posse, orgulho, medo…) e seus efeitos devastadores ou adoráveis na construção da história de vida das pessoas. La La Land é um filme sobre o qual é difícil de escrever ou de falar. Ele é único, singular. Não há como definí-lo sem menosprezá-lo. É preciso assistir para entender e sentir tudo o que ele é. Não só mereceu a indicação a Oscar de Melhor Filme, como tem chances quase certas de levar a estatueta.

Manchester à Beira-Mar

Este é um filme que surpreende. Você espera menos, e ele lhe emociona de forma suave e profunda. Definitivamente, a chance da vida de Casey Affleck. Se existe um marco na vida de Casey quando ele deixa de ser apenas o irmão de Ben Affleck e passa a ser o ator Casey Aflleck, este marco é Manchester à Beira-Mar. O filme, além de ser lindo e emocionante, revela Casey como um ator monstruosamente talentoso! A história é de um homem perturbado pelo seu passado, que sofre e que não consegue se recuperar das dores e dos traumas ocorridos em Manchester. Ele é forçado a voltar à cidade em função do falecimento de seu irmão, que deixou órfão seu sobrinho e, via testamento, lhe fez tutor legal do menino. A partir disso ele tenta não envolver-se novamente com a cidade e com os antigos conhecidos, mas é dragado pelas lembranças do passado e acaba quase imobilizado pela dor. Apesar de não ser um filme que traz temáticas importantes ou relevantes ao cotidiano, é uma obra cinematográfica respeitável e que merece, sim, a indicação a Oscar de Melhor Filme.

Elle

Elle é um filme perturbador, que incomoda, que chacoalha a mente do espectador. E que, depois que acaba, deixa uma sensação de vertigem e amargo na boca. Elle é um filme que fala a respeito da psiquê e da personalidade de uma mulher estuprada dentro de casa. Em geral, não é um filme grandioso ou merecedor de diversos prêmios (inclusive, nem foi indicado para muitos). Mas certamente está condizente com a indicação ao prêmio de Oscar de Melhor Atriz. Pois a atuação de Isabelle Huppert é avassaladora. Se Elle é um filme que mexe com as entranhas dos espectadores, isso se deve 100% à Isabelle.

Jackie

Não é um filme que traz alguma novidade. Os Kennedy são assunto batido e revirado há anos em filmes de ficção, documentários e jornalismo. Jackie aborda a morte de John F. Kennedy a partir da visão de sua esposa, Jaqueline Kennedy. Mostra sua reação no momento da morte, nas horas após o crime e em tudo o que permeia a organização do velório e enterro de seu esposo. Não foi indicado para diversos prêmios, até porque não merecia tanto. Mas a atuação de Natalie Portman como Jackie Kennedy é merecedora de atenção. E, portanto, Jackie concorre ao premio de Oscar de Melhor Atriz.

Florence: Quem é Essa Mulher?

O filme trata da cômica e dramática história de Florence Foster Jenkins, uma desafinada e zero talentosa cantora de ópera. Trata-se de uma história real, e é um filme formidável. Porém, dentre tantas obras espetaculares, ‘Florence: Quem é Essa Mulher?’ talvez não tenha alcançado os requisitos necessários para entrar na listagem de premiações relativas ao conjunto da obra. Porém, como a história nos mostra ao longo dos anos, nada que Meryl Streep faça passa em branco. Portanto, a indicação ao Oscar de Melhor Atriz é lógica e merecida.

Capitão Fantástico

Este é, realmente, um filme que nos pega de surpresa. Ao ler a sinopse e ver as imagens e trailer, você jamais imaginaria a profundidade e a beleza de ‘Capitão Fantástico’. O filme trata da história de uma família que, avessa aos costumes da sociedade capitalista doente, resolve viver no meio da floresta, caçando para comer e tendo hábitos primitivos de contato com a natureza e harmonia com o meio ambiente como seu estilo de vida. Porém, tudo entra em colapso quando a mãe da família morre, e o pai é obrigado a “retornar para a civilização”com seus cinco filhos. Talvez ‘Capitão Fantástico’ tenha sido um pouco injustiçado em não concorrer para prêmios relativos ao conjunto da obra. Mas com certeza a indicação para Oscar de Melhor Ator, para Viggo Mortensen, foi acertada.

Loving

Mais um filme que traz a história real de pessoas que desafiaram o preconceito e foram precursoras em grandes mudanças na maneira que o mundo é organizado. Loving trata da história de Richard e Mildred Loving, um casal inter-racial que é perseguido e preso diversas vezes, no estado da Virgínia – EUA, pelo simples fato de terem se casado. A lei na Virgínia, e em outros estados dos EUA, proibia casamento entre brancos e negros, alegando que filhos gerados de miscigenação não teriam direitos civis, pois seriam “bastardos”, sem uma identidade em seu sangue. Richard e Mildred conseguiram apelar para a suprema corte norte-americana em seu caso, para que o seu casamento fosse considerado legítimo, e eles deixem de ser perseguidos. E o resultado foi um marco histórico: eles não apenas venceram, como serviram de jurisprudência para modificar os direitos civis nos Estados Unidos. O filme mereceu a indicação ao Oscar de Melhor Filme, indiscutivelmente.

E aí? Conseguiu perceber a mudança dos últimos anos para 2017? Não é o momento mais fantástico do cinema nas últimas décadas?

Agora é só preparar a pipoca e aguardar a tão esperada cerimônia do Oscar no próximo domingo, dia 26/02.

A cerimônia será transmitida ao vivo pelo canal TNT, no Brasil. Não perca!

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